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Senhora do gatinho anda a precisar de ir à bruxa. Ele é lesão no joelho, ele é cirurgia... e hoje, quando bateu um desejo enorme de comer sardinhas em lata (não é só as grávidas que têm desejos, mas devia ser!) tau, ia arrancando uma parte do dedo.
Primeiro uma dor horrível, depois uma visão do inferno, sangue e mais sangue a jorrar para dentro da própria lata de sardinhas (eu avisei que era uma visão do inferno) e um medo (muito medo!) de olhar para a profundidade do corte. Depois de respirar fundo, senhora do gatinho olhou para o dedo e sentiu que era desta que deixava a valentia de lado e lhe dava um chilique: suores (frios, ou melhor, gelados) a escorrer pelas costas, luzinhas a piscar... "ai que eu vou desmaiar", "ai que só tenho as gatas em casa e não me vão ajudar", "ai que o homem está em viagem e só chega daqui a uma hora", "ai que tenho de ir ao aeroporto", "ai, ai, ai".
Até que veio a primeira ideia luminosa: pôr o dedo debaixo de água e com um pano tentar estancar o sangue. Poucos minutos depois, o pano completamente encharcado, as calças com sangue, os sapatos com sangue (os novos adidas brancos com sangue!), o chão com sangue.
Segunda ideia (esta pouco luminosa, diga-se) - ligar ao pai que está (somente) a umas horas de avião de distância:
- Pai, cortei um dedo com uma lata de sardinhas mas isto está feio, não pára de sangrar, o que faço?
- Ah, isso não é nada (como não é nada? estou em vias de chamar uma ambulância!), já puseste o dedo debaixo de água? Lava bem, desinfecta e aperta para estancar o sangue
- Já fiz isso tudo mas é muito sangue e está a doer
- Então faz um penso, é natural que doa mas já passa (tão prático este meu pai)
- Ok, vou continuar a tentar estancar
Mais um paninho encharcado, até que o sangue parecia começar a dar tréguas. Vários pensos enrolados no dedo e toca para o aeroporto para ir buscar o homem. Sangue a sair pelos pensos, volante sujo, homem entra no carro e senhora do gatinho enche-se de orgulho (afinal continuava valentona)
- Fiz um grande corte no dedo, saiu imenso sangue, até pensei que desmaiava, mas já está melhor
Homem olha, fica pálido e diz:
- Vamos para o hospital
- Não é preciso, já tem muito menos sangue (prepara-te para ver os panos que estão em casa)
- Tens de levar pontos, isso não vai passar por si
Senhora do gatinho detesta hospitais e evita ao máximo lá ir, mas o homem insistiu, insistiu, o sangue até parecia aumentar novamente e pronto, hospital
- Detesto estar aqui, está toda a gente a tossir, ainda saio daqui com um vírus qualquer, não devia ter vindo.
Triagem, pequena cirurgia, anestesia, pontos, vacina do tétano e assim termina o dia.
Serão 10 dias com o dedo do meio (esse maravilhoso dedo) empanado e curativo dia sim dia não.
Felizmente senhora do gatinho é destra, por isso ainda pode escrever e pintar. Mas não pode lavar a loiça (foi o médico quem disse).
Moral da história:
Muito cuidado com as latas de sardinhas.
=^.^=