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Não gosto quando se nega o passado, assim ao estilo de - passei uma borracha e aquilo deixou de existir. Mas acham mesmo que isso é possível?
Num destes dias fui jantar fora com amigos. Um deles, como não mora cá e já não o víamos há uns três anos, inevitavelmente começou a fazer perguntas acerca de pessoas que conheceu numa temporada que passou cá na ilha: "E fulano de tal, o que é feito?", "E aquele vosso amigo...?", "E aquela…?", até que chegou à pergunta que alguns da mesa temiam: "E aquela que andava atrás daquele?". Alguém na mesa estremeceu e, tentando logo cortar o mal pela raiz, prontificou-se a dizer: "Isso não aconteceu, não interessa, o que interessa é que ela encontrou outra pessoa, casou e até já tem filhos". Bem, dizer que não interessa, eu até concordo. De facto, não temos nada a ver com a vida nem com o passado uns dos outros, mas daí a dizer que não aconteceu, quando todos naquela mesa sabem que aconteceu porque até assistiram (a cenas pouco recomendáveis, diga-se), vai uma grande distância. A partir daí deu-se o mote para a discussão: Mas afinal o passado (amoroso) interessa?
Na minha opinião, é óbvio que interessa, mas também é óbvio que não se deve viver de passado. O passado, como o próprio nome indica, passou. Mas é a nossa bagagem e acho que a devemos guardar, nunca renegar.
Da minha experiência, quando não deixamos as coisas resolvidas, mais cedo ou mais tarde elas nos batem à porta, vêm lá das profundezas e num belo dia, geralmente quando não se está à espera, chega até nós e diz "hello, sou o teu passado e estou aqui para te atormentar" (tipo aquele anúncio a pensos higiénicos: olá sou a tua menstruação! Confesso que nunca gostei desse anúncio), daí a importância de ir resolvendo.
Claro que não é necessário andarmos com uma t-shirt onde está estampado "acertei à 5ª tentativa" ou "… à 10ª" , ou "perdi a conta". Ninguém tem que ver com isso, mas também não me parece que a solução passe por fingir que não existiu. Todos errámos em diversos domínios da vida e no que toca a relações amorosas, felizes aqueles (ou não) que acertaram à primeira, mas a verdade é que a maioria de nós teve de beijar alguns sapos até aparecer o príncipe e não quer isto dizer que ele também não venho um dia a transformar-se em sapo.
Sou apologista de que devemos guardar as boas recordações com carinho. Quanto às más, que sirvam de aprendizagem para que não se voltem a repetir (é um lugar comum, mas é a verdade). Mas todas elas fazem parte de nós e não há borracha que apague, só temos de aprender a viver com elas.
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