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por A senhora do gatinho, em 31.03.14

O violento mundo do yoga ou quando ser simpática não é a melhor opção

Uma amiga, praticante fervorosa de yoga, todos os dias me repetia: "tens de vir experimentar uma aula, aquilo é espetacular, saio de lá rejuvenescida, ganhei flexibilidade, nunca mais apanhei uma gripe, sinto que tenho menos dez anos e o ambiente é super zen, vais adorar". Resumindo, era tudo fantástico. Atendendo à descrição, cheguei a interrogar-me como é possível alguém já ter chegado aos 100 anos sem nunca praticar yoga. Mas adiante.

Aceitei o convite e lá fomos, todas catitas, para a aula. Admito que era uma sala engraçada, com velas e cheiro a incenso.

Depois de observar o espaço, reparei que já estavam sentadas no chão três senhoras, com um aspeto muito zen, diga-se, nos seus colchõezinhos (que, claro, não se chamam colchõezinhos, têm um nome esquisito qualquer que não me consigo lembrar, embora não deixem de ser colchões, fininhos, mas colchões!), depois estava um espaço vago no chão, de seguida um senhor a tender para o anafado (a parte do anafado é uma informação importante para o resto da história), mais um espaço vago e de seguida a minha amiga, que já se tinha abancado. Pensei: todos muito zen, muita paz e amor e deixam o homem isolado. Nesse momento baixa em mim o espírito solidário e empático e, revoltada com aquelas discriminadoras disfarçadas de zen, sentei-me entre o senhor anafado e a minha amiga.

Começámos os exercícios, algumas dores, desequilíbrios, mas para primeira aula pareceu-me perfeitamente normal. Até que a instrutora, ou Mestre, não sei bem, diz: "Agora vamos passar para as posições invertidas (ou seja, cabeça para baixo e pernas para o ar), mas só faz quem já tem prática". Para os outros, incluindo eu, disse para fazer um exercício com a cabeça para baixo e os pés no chão.

Assim, estava eu completamente concentrada no exercício quando, tão depressa sinto que o senhor ao meu lado está de cabeça para baixo, mas ao saltinhos, tentando pôr as pernas para o ar, como já estava ele (pesado, muito pesado), caído em cima do meu braço. Por momentos tive a sensação de que o braço estava partido. A instrutora, aflita, pediu-me muitas desculpas (o visado nem me dirigiu palavra). Recompus-me, embora com o braço a doer, pois só faltava o relaxamento que, pensei, seria a melhor parte. Fiz um esforço enorme para tentar não pensar na dor e lá fui acompanhando as instruções, procurando sentir os dedos dos pés, as pernas... e quando tentava imaginar o prado verde, oiço um ronco, e depois outro, e outro. O senhor anafado tinha adormecido e ressonava tão alto que eu já nem conseguia ouvir as instruções.

Fiquei três dias com dores no braço e, escusado será dizer, não volto a pôr lá os pés.

Moral da história: fazer desporto e ser simpática, nem sempre é a melhor opção.

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publicado às 21:22


2 comentários

De m-M a 01.04.2014 às 10:11

Eu por exemplo só aceitei o yoga quando sobe que não tinha música ou incenso e que somos poucos - no máximo 6.
E que estamos todos mais ou menos ao mesmo "nível".
E sim, também tive uma amiga que nos últimos quase 2 anos não se calou para eu ir experimentar.
Fui, mas não foi com ela :P

De A senhora do gatinho a 01.04.2014 às 17:44

Agora, só com um personal trainer de yoga :)

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"Espalhou-se logo a notícia de que uma cara nova se passeava pela marginal: uma senhora com o seu gatinho" [adaptado de Tchékhov].

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